Pegadas de dinossauros na Pedra da Mua

Pedra da Mua jazidas

 As jazidas de icnofósseis da Pedra da Mua, Monumento Natural desde 1997, estão englobadas no Parque Natural da Arrábida e são das mais conhecidas em todo o país.

Todos os anos, milhares de visitantes dirigem-se ao Cabo Espichel para ver as pegadas de dinossauros.
O trilho pedestre começa à beira da estrada de asfalto, que vai até ao Santuário de Nossa Senhora do Cabo, onde uma placa assinala "Pegadas da Pedra da Mua". Depois é percorrer cerca de um quilómetro de terra batida até ao miradouro, situado a norte da baía dos Lagosteiros. 

A caminhada é relativamente fácil e sem grandes declives,  a paisagem é magnífica e o cheiro da maresia misturado com o da vegetação, torna o passeio inebriante.

Recomenda-se que se levem uns bons binóculos e que se saiba exactamente para onde olhar ao chegar ao miradouro, senão dificilmente se consegue distinguir as pegadas, muitas vezes confundidas com pequenas depressões cobertas por vegetação.


Pegadas dinossauros Pedra da Mua

As jazidas da Pedra da Mua apresentam oito camadas sedimentares (níveis) com pegadas de dinossauros.
Encontram-se identificadas 38 pistas de saurópodes de grandes e pequenas dimensões e 2 pistas de terópodes, num total de cerca de 700 pegadas.

Pedra da Mua nivel zero
Pedra da Mua - camada 0 - um dos trilhos assinalado com seta

No nível 0 foram identificadas 4 pistas de saurópodes, uma delas dominada pelas impressões das mãos, sendo mais visíveis as impressões do lado esquerdo, o que sugere que o sedimento pisado pelo sauropode seria brando e irregular não chegando a solidificar na sua totalidade.
 Em todos os trilhos as pegadas são muito pouco profundas.

Pedra da Mua nivel um
Pedra da Mua - camada 1 - trilhos mais "visiveis" assinalados com setas

Na camada 1 da Pedra da Mua existem oito trilhos de saurópodes, numa superfície com muitos vestígios de actividade de invertebrados (bioturbação), contendo pequenos gastrópodes e restos de grandes foraminíferos.

Pedra da Mua trilhos
Pedra da Mua - camada 3
Esquema retirado daqui

A camada 3 da Pedra da Mua tem uma atracção especial, talvez o ex-libris de toda a jazida. 
Aqui existem sete trilhos de pequenos saurópodes que caminhavam lado a lado para sudeste o que comprova  a existência de um comportamento social entre sauropodes juvenis.
Estes pequenos saurópodes que viajavam a velocidades entre 3,6 e 5 km/hora, deixaram marcadas no solo as impressões dos membros posteriores que medem de 38 a 46 cm de comprimento, o que indica que teriam cerca de 1,5 a 1,8 metros do solo à anca.

Pormenor dos trilhos produzidos pelos saurópodes juvenis

Mais tarde, terão passado saurópodes maiores os quais deixaram três trilhos paralelos, constituindo possivelmente outro grupo já que as pegadas apresentam idêntica preservação.
As suas pegadas com 70 a 73 cm de comprimento, apontam para indivíduos com cerca de 2,8 metros do solo à anca que se deslocavam a velocidades entre 3,4 e 4,1 km/hora.

 Nesta camada também se encontram três pegadas de terópode, com comprimento médio de 42 cm.

Pormenor da pista 9 

A camada 5 apresenta cinco trilhos de dinossauros saurópodes.

Num desses trilhos, as pegadas estão bem preservadas, com rebordos volumosos provocados pela pressão exercida pelos pés e mãos no solo. As depressões ovais que representam os pés medem cerca de 80 cm de comprimento e conservam as marcas de quatro dedos aguçados.
As impressões das mãos são em forma de crescente com cerca de 38 cm de largura mas não revelam vestígios de dedos.

Pedra da Mua pegadas
Pedra da Mua - camada 5 - trilhos mais "visiveis" assinalados com setas

 Outro trilho desta camada deu origem à lenda da Nossa Senhora da Mua: reza a lenda que dois peregrinos teriam visto Nossa Senhora montada numa mula gigante a subir as arribas do Cabo Espichel, deixando as suas pegadas bem marcadas na laje.
 No cimo da arriba  foi construída a pequena Ermida da Memória onde se encontram  painéis de azulejo do século XVIII que relatam a lenda e onde estão representadas as pegadas.


Trilho que deu origem à lenda da Nossa Senhora da Mua

Mas as pegadas da Pedra da Mua são o registo fóssil de uma realidade bem diferente.

No Jurássico Superior, e durante um período que durou desde os 157 Ma aos 145 Ma (do Kimeridgiano ao Titoniano) as arribas do Cabo Espichel eram uma zona litoral rasa e plana, banhada por um mar pouco profundo de águas mais quentes e límpidas e um clima mais tropical, propício à formação de calcários.
E foi nas margens deste mar, que os dinossauros deixaram as suas pegadas.

As camadas de calcários do Cabo Espichel, que se encontram inclinadas cerca de 70º no farol e cerca de 45º na baía dos Lagosteiros, resultam do efeito da colisão da placa Africana com a placa Ibérica ao longo do Miocénico, provocando a elevação de várias zonas montanhosas portuguesas como a Cordilheira Central, o Maciço Calcário Estremenho, ou a Serra da Arrábida.




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Bibliografia:


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